Nas voltas do caracol

Ao pensar o alimento como ferramenta de transformação social, Projeto Caracol atua em diferentes comunidades brasileiras a partir de práticas educativas

Foto: Dieine Gomez/Believe.Earth

No começo do ano passado, como incitava do GT (Grupo de Trabalho) Slow Food Brasil Educação, surge o Projeto Caracol, que age em comunidades de baixa renda, de diferentes culturas e biomas brasileiros. Entre os objetivos, promover a segurança alimentar e nutricional e a reflexão sobre a cadeia do alimento, proteger o patrimônio cultural, incentivar a participação nas discussões sobre políticas públicas alimentares e aliar a produção local à geração de renda. Com o apoio da Misereor, o projeto atua, nesse momento, na Comunidade Chico Mendes (Florianópolis/SC), no Acampamento Paulo Botelho (Ribeirão Preto/SP) e na Enseada da Baleia (Cananeia/SP). Uma nova articulação vem sendo construída com uma comunidade quilombola de Eldorado/SP, também no Vale do Ribeira.

É a partir da realização de oficinas e da sistematização de metodologias para aplicar políticas públicas de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) que os ativistas agem com as comunidades envolvidas, entendendo as necessidades locais e desenhando um planejamento de ações. Fortalecimento, autonomia e participação social em comunidades produtoras de alimentos é o lema do Caracol, um projeto piloto que tem a educação do gosto como um dos pilares para as práticas educativas. Segundo a historiadora Gabriella Pieroni, de Florianópolis, o conceito foi adaptado para a realidade do país. “Procuramos dar uma faceta mais política para a educação do gosto. São vários desafios que o contexto brasileiro nos apresentou e vimos que apenas as metodologias de treinamento dos sentidos, que vem de uma realidade europeia, não dava conta de fortalecer o tema”, diz Pieroni.

A Enseada da Baleia, por exemplo, cujas demandas são articuladas pela bióloga Marina Vianna, passa por um processo de realocação territorial. As oficinas de sensibilização do gosto contribuem, assim, para a revalorização da cultura tradicional, à medida em que trabalham a retomada de receitas típicas e a criação de preparações com o pescado produzido na nova área. Já no Acampamento Paulo Botelho, sob articulação do educador Fúlvio Iermano, o foco está nas oficinas de ecogastronomia, a partir da utilização de alimentos produzidos com manejo agroflorestal, visando aproveitar os recursos locais e agregar renda por meio do processamento simples desses produtos. No fim do ano passado, a integrante da Aliança de Cozinheiros Slow Food, Adriana Vernacci, esteve no local ministrando oficinas de ecogastronomia.

Também para fechar 2018, a Comunidade Chico Mendes, cujo projeto Revolução dos Baldinhos soma mais de dez anos de sucesso na gestão de resíduos orgânicos, inaugurou a Cozinha Mãe. Através de oficinas de educação alimentar e formações de cozinheiras, a iniciativa visa dar subsídios à geração de renda a partir da produção local, além de promover a atuação com autonomia nas escolas e comunidade. Articulada por lideranças femininas, a Cozinha conta com apoio do Projeto Caracol, que, para a mobilizadora comunitária Cíntia Cruz, vem totalmente ao encontro da proposta. “Ter esse desenvolvimento com a comunidade, de poder oferecer cursos e estruturar esse espaço para os moradores são os grande diferenciais que possibilitam nossa emancipação e a transformação social.”, fala Cíntia. Em dezembro, a também integrante da Aliança de Cozinheiros Slow Food Cláudia Mattos esteve na cozinha comunitária para falar sobre o aproveitamento total da bananeira nas receitas.

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