Araruta

Arca do Gosto // Cereais, amidos e farinhas // Hortaliças e conservas vegetais

Araruta-caixulta, Araruta Comum, Araruta Palmeira, Agutingue-pé, Embiri. // Maranta Arundinacea // Recôncavo Baiano // Agricultores familiares do Recôncavo Baiano

Araruta é uma planta de rizoma fibroso, do qual se extrai um polvilho finíssimo, extremamante branco, usado no preparo de mingaus, biscoitos, bolos e brevidades. O amido da Araruta tem características e qualidades que conferem leveza e alta digestibilidade às receitas. Segundo a nutricionista Neide Rigo “o que se nota é que a Araruta é mais expansível e, com isso, as receitas ficam mais leves, aeradas e crocantes” (Folha de São Paulo, 09/11/2008). Outra característica importante da Araruta é a ausência de glúten, se apresentando como alternativa para substituição de derivados do trigo, aveia, centeio e cevada.

Para extração do polvilho de Araruta os rizomas são triturados, peneirados e lavados para separação da fibra e decantação do amido (ou fécula). Depois da separação, o polvilho é seco e peneirado.

A araruta cresce formando touceiras que podem chegar a 1,2 metros de altura. Seus rizomas(caules subterraneos) são fusiformes, muito fibrosos e acumulam amido que formam as reservas para o crescimento de uma nova planta. Os rizomas da variedade “Araruta Comum” podem atingir até 30 cm, são claros e cobertos por uma escama muito fina que descasca com facilidade.

A Araruta é plantada a partir dos rizomas inteiros ou das extremidades finas de rizomas grandes. O plantio é anual e feito no início das chuvas. A colheita pode ser feita 9 a 10 meses depois do plantio quando sa plantas apresentam as folhas amareladas e secas, tombadas sobre o solo.

História do produto e relação com cultura local

A araruta é originária da América do Sul. Os indígenas de toda regiâo de ocorreência da araruta conheciam bem a planta, havendo indícios de seu cultivo há mais de 7.000 anos. No Brasil, os Caraíbas e os Caiapos cultivavam inúmeras variedades de marantáceas, em campos de floresta, nas margens das trilhas que ligavam uma aldeia a outra, nas clareiras naturais os nas roças de morro, geralmente feitas por mulheres idosas da aldeia, constituindo reservas de alimento para fazer frente á escassez, no caso de enchentes ou perda de colheitas. Essas roças representavam valiosos bancos destas culturas e de outras plantas tuberosas Extraíam o amido da araruta e com ele engrossavam sopas usadas para tratar idosos e crianças e para fortificar mulheres recém paridas.

“Lembrava que cor de marfim, um brilho e aqueles anéis. Quando era criança, comia muito polvilho de araruta na fazenda. Depois, sumiu. Fazia uns 30 anos que não via mais, mas nunca esqueci.” (depoimento da chef de cozinha Mara Sales. Folha de São Paulo, 09/11/2008).

Os confeitos de araruta povoaram a infância das gerações passadas dos brasileiros, e em regiões como o recôncavo da Bahia, é muito comum ainda hoje encontrar pessoas com histórias para contar sobre sa receitas e usos medicinais da planta. A araruta chegou a dar nome a uma música do compositor Noel Rosa (1932) e encerra a canção com ela nos versos “Meu bem, escuta/ A araruta tem seu dia de mingau!”

A APORBA (Associação dos Produtores Orgânicos do Recôncavo da Bahia) realiza trabalho de resgate do cultivo da araruta e beneficia produtos que são vendidos em comércios do Recôncavo e de Salvador. Nesta região a Associação descobriu uma variedade de Araruta raríssima e selvagem conhecida como “ovo de pata” perdida em algumas várzeas que ainda existem naquela localidade.

Outros depoimentos:

Ha 30 anos, era comum na região de Entre Rios de Minas (120 km ao sul de Belo Horizonte) os biscoitos de araruta e o mingau de araruta. Tenho a lembrança dos biscoitos, que quebravam facilmente na boca e dissolviam na saliva sobre a língua O mingau era muito bom para crianças com diarréia, pois era um alimento muito leve e nutritivo. Tenho a lembrança de ser uma farinha muito fina, semelhante a um polvilho e era relativamente fácil encontrar pessoas que plantavam e faziam a farinha. Atualmente, tenho procurado para plantar e não encontro mais quem tenha mudas” ( Euler Andres Ribeiro)

Algumas Referências

“Araruta: Resgate de um cultivo tradicional”. NEVES, M. C. P.; COELHO, I. da S.; ALMEIDA, D. L. de. Embrapa: 2005. Disponível em: www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/625391/araruta-resgate-de-um-cultivo-tradicional

Folha de S.Paulo – Em busca da araruta – 09/10/2008
http://come-se.blogspot.com.br/2008/10/deu-hoje-na-folha-de-spaulo-araruta-em.html

Brevidade de araruta (e da vida dos ingredientes). Caderno Comida, O Estado de S.Paulo – 28/04/2010
http://blogs.estadao.com.br/paladar/brevidadedeararutaedavidadosingredientes/

Revitalização do Cultivo da Araruta no Recôncavo Baiano:
http://come-se.blogspot.com.br/2009/09/araruta-no-reconcavo.html

Vídeos:

Programa do Canal TLC/Discovery com apoio do caderno de Paladar de culinária do Estadão:
https://www.youtube.com/watch?v=wf5tUiTGYqA

ABC do Globo Rural – Araruta
http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-rural/v/abc-do-globo-rural-araruta/838053/

Receitas:

http://come-se.blogspot.com.br/2009/01/araruta-verdadeira-do-recncavo-baiano.html
http://infograficos.estadao.com.br/public/paladar/setimo-paladar-cozinha-do-brasil/rec-bolo-araruta-canela.html

Indicação

Euler Andres Ribeiro e Pedro Augusto Borges Coni

Pesquisa

A APORBA é composta por 32 associados. Com atuação no Recôncavo da Bahia, com destaque para o município de Conceição do Almeida, considerado o berço da Araruta. O projeto de revitalização da planta começou em agosto de 2008, com a variedade “Comum”, neste município se estendendo às cidades vizinhas. Já foram produzidos desde então aproximadamente 3,500 kg de fécula e 1000 kg de farinha que são produtos derivado dos rizomas e também a fibra que é usada para fabricar caco e artesanatos. Pedro Augusto Borges Coni Associação dos Produtores Orgânicos do Recôncavo da Bahia Sítio Bom Sucesso-Zona Rural - Conceição do Almeida - Bahia - CEP: 44.540-000 contatoararuta@hotmail.com

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