Pororoca

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No início dos anos 1930 as pororocas, como também eram conhecidas o mandiopã (“petiscos de polvilho, fritos, torradinhos, expandidos, diversificadamente elaborados com massa de batata, mandioca ou fubá”) foram inventadas pelo chefe da estação ferroviária de Limeira/SP, João da Silva Bocaiúva. A feitura do mandiopã faz com que a massa fina e translúcida se transforme em uma casquinha crocante, como um torresmo à pururuca (preparo onde a pele do porco é cozida e frita em gordura, adquirindo aspecto crocante). A repercussão dessa guloseima foi tanta que logo foi levada à indústria e fabricadas em grandes quantidades até alcançarem a consagração nacional.

O mandiopã é o primeiro produto no estilo “salgadinho de saquinho” fabricado no Brasil. Data de 1954 a sua primeira comercialização em maior escala, mas antes disso, o preparo complexo deste biscoito crocante já era feito em ambiente doméstico durante as festas e comemorações.

Mandiopã secando na peneira. Fotos: Neide Rigo

As origens do mandiopã provavelmente se remetem a preparações como a do “hopper” (massa frita feita a base de farinha de arroz, muito popular no Sri-Lanka), do “appams” (produto similar muito comum na Índia) e dos japoneses “sembei”.

Uma versão industrializada do produto foi comercializada no Brasil desde 1954 até 1990, com o nome de Mandiopã e a receita inspirada na preparação tradicional. A fábrica que detinha o nome fechou, e após algum tempo, um produto similar, com outro nome, apareceu no mercado. Esse produto era acrescido de sabores como queijo, bacon e camarão. Esta nova versão não alcançou muito sucesso e, recentemente, o mandiopã passou a ser novamente produzido com o nome e receita originais.

Mas independente da história e dessa fábrica que colaborou para popularizá-lo em todo o país, o mandiopã é fruto do saber fazer e da paciência: se utilizando ingredientes simples e populares, consegue-se produzir um alimento de sabor e textura únicos, que surgiu e se difundiu muito antes da sua transformação em produto da indústria.

Devido a sua preparação trabalhosa e diante da grande oferta de salgadinhos e outros produtos industrializados, o mandiopã tradicional, preparado apenas com ingredientes naturais e sem aditivos químicos, sobrevive hoje somente a partir da insistência de algumas poucas pessoas que ainda detém os segredos do preparo.

O mandiopã tem sabor neutro e textura crocante, e recebe muito bem qualquer tempero ou condimento acrescentado à massa ou após a fritura. Pode ser servido como petisco, como acompanhamento de patês, molhos e outros pratos, ou até em pratos sofisticados para o contraste de texturas.

Indicado por Karina Moreira da Costa
Texto e pesquisa por Marcelo de Podestà
Revisão por Ligia Meneguello

Referência:
Nadir Alves Galante Cavazin. Histórias e Receitas – Sabor, Tradição, Arte, Vida e Magia (Sociedade Pró-Memória de Limeira, 2000, p.22)

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