O óleo de macaúba é produzido a partir do beneficiamento das castanhas (parte interna do fruto) da palmeira homônima, mediante torra e cozimento, seguido de extração por decantação e purificação.
Os frutos são colhidos após caírem naturalmente das árvores, momento no qual a casca externa encontra-se seca e quebradiça e a polpa interna visivelmente madura (de cor amarelada, aroma levemente fermentado e aspecto oleoso). A polpa é um alimento muito nutritivo, bastante procurada por animais selvagens e de criação, especialmente o gado e pode ser usada também para a extração de óleo de qualidade inferior (levemente oxidado) utilizado para produção de sabão.
O óleo destinado ao consumo humano, também conhecido como óleo “da gema”, é extraído da castanha após um período mais ou menos breve de fermentação dos frutos despolpados. A casca grossa é rompida tradicionalmente utilizando pedras ou porretes e, em alguns casos, maquinário especializado. No processo tradicional as castanhas são torradas no forno por cerca de 20 minutos, o que facilita a extração do óleo e confere sabor característico ao óleo e, em seguida, trituradas até formar uma massa viscosa. Antigamente, esse processo era realizado manualmente no pilão de madeira, geralmente feitos de madeira de cerne, como pau de pequi ou de jacarandá, mas atualmente, a castanha torrada é moída no desintegrador, uma máquina elétrica que, em poucos minutos, realiza o trabalho de um dia todo no pilão. A massa pilada ou moída é misturada com água e fervida no tacho. Durante esse período, é importante mexer o líquido para a massa não grudar no fundo da panela e, aos poucos, a água começa a ferver e as gotículas de gordura emergem e se aglutinam na superfície da massa. Com o acúmulo do óleo, ele vai sendo aos poucos colhido levemente com uma concha.
Após a coleta do óleo, no processo por fervura, a massa que sobra no tacho (chamada de “massa restolho”) é retirada e armazenada em um tambor para posteriormente compor a chamada “torta” dos animais, formando uma ração para galinhas e suínos.
A gordura coletada depois de repetidas fases deste processo é levada novamente ao fogo para ser “purificado”, ou seja, para retirar qualquer resíduo de água e garantir um óleo puro, evitando a proliferação de fungos no produto.
Atualmente é possível extrair o óleo diretamente das castanhas utilizando uma prensa. Desta forma, o produto tem sabor mais delicado e aspecto mais límpido. A torta, ou bagaço residual pode ser utilizada para alimentação animal ou humana, pois ainda conserva algumas das características nutricionais da polpa e bastante fibras.
A produção do óleo de macaúba está profundamente ligada a história e o território de Jaboticatubas, cidade localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, aos pés do trecho da Serra do Espinhaço conhecido como Serra do Cipó.
A palmeira da macaúba, mesmo com o intenso desmatamento provocado nas últimas décadas para produção de carvão, criação de pastos e condomínios residenciais, ainda domina a paisagem da região. O processamento do fruto já foi uma das principais atividades na cidade, movimentando a economia local e o quotidiano de inúmeras famílias, que coletavam os frutos para levá-los a uma antiga fábrica de sabão, inaugurada em 1942.
No entanto, com a chegada dos óleos industriais a fábrica quebrou, mas as famílias mantiveram a tradição de manejo das palmeiras, coleta dos frutos e extração artesanal do coco para consumo familiar e comércio nas feiras regionais. O óleo é utilizado para temperar saladas, para fritar, refogar, para a produção de biscoitos, tortas, doces e com finalidade hidratante e medicinal.
A Fortaleza
A Fortaleza da Macaúba de Jaboticatubas nasce com o objetivo de colaborar na valorização da produção artesanal do óleo, no estímulo à produção sustentável e ao comércio justo, além do registro histórico, fortalecimento e difusão de uma identidade coletiva que resgate a cultura, as práticas e o orgulho dos produtores em relação aos seus produtos e seu território.
A produção do óleo de coco e outros derivados da macaúba representa a possibilidade de geração de renda para as comunidades envolvidas e a garantia de permanência e de proteção do território. O estímulo ao envolvimento dos jovens nas funções administrativas, de controle de produção, comercialização é um fator estratégico de grande importância, que se intensifica com a maior conscientização e abertura de possibilidades de ganho econômico. O trabalho de reflorestamento de áreas degradadas a partir da reintrodução da macaúba e outras espécies nativas é um segundo passo na construção deste trabalho que abre ainda mais possibilidades para exploração de recursos e manutenção da biodiversidade na região.