A cataia (Pimenta pseudocaryophyllus) é uma planta nativa da Mata Atlântica, que ocorre sobretudo nas regiões montanhosas e costeiras do Vale do Ribeira (nordeste do estado do Paraná e sudeste de São Paulo)

Pertece à família das mirtáceas (como as goiabas e pitangas). Possui uma copa arredondada muito característica, que pode alcançar mais de 20 metros.

Em Tupi, língua de grande parte dos povos indígenas que habitavam essa porção do litoral brasileiro antes da chegada dos colonizadores, cataia significa “folha que queima”. Muito utilizada na medicina tradicional e popular, a planta é mais conhecida devido a uma bebida homônima preparada pelas comunidades caiçaras a partir da infusão das folhas na cachaça. As folhas doam ao líquido uma cor amarelada, que recebe o apelido de “uísque caiçara” ou “uísque da praia”.

Segundo histórias locais, a bebida originou-se na comunidade de Barra do Ararapira, litoral norte paranaense, em 1985, quando o senhor Rubens Muniz resolveu misturar as folhas de cataia, originalmente utilizada na comunidade como chá ou erva anestésica, com cachaça. A partir daí a fama da bebida se espalhou pelas redondezas.

Hoje há um bom número de pessoas preparando a cataia por conta própria e é possível encontrar algumas garrafas com rótulos das cidades paulistas de Cananeia e Ilha Comprida.

Na Ilha de Superagui, município de Guaraqueçaba – PR, a Associação de Mulheres da Barra do Ararapira comercializa a bebida preparada com as folhas extraídas com manejo sustentável da área de preservação ambiental. A atividade de base familiar garante uma renda complementar de grande importância para essas comunidades.

No entanto, a grande procura pelo “uísque caiçara” tem levado ao aumento da extração da planta sem nenhum manejo específico, em áreas remanescentes florestais onde ocorre espontaneamente, e é importante que seja dada alguma atenção para controle e manutenção do estoque natural da espécie, que corre risco de extinção.

Curioso notar que, devido a exploração intensa, a cataia passou a ser considerada e descrita como um arbusto, sendo que, como mencionado, pode alcançar altura razoável.

Suas folhas em infusão são bastante usadas para aromatizar cachaças e outros destilados. Este processo reduz a acidez da bebida e doa notas adocicadas de madeira, cravo e pimenta do reino. A bebida é consumida geralmente pura ou com mel. Folhas e frutos secos podem ser usados como tempero e especiaria na preparação de cozidos, carnes ensopadas, legumes como o feijão, entre outros. Existem relatos de meados de 1800 que mencionam o uso dos frutos secos como substituto do cravo-da-índia em doces e geleias. Não por acaso, o nome científico dado à esta planta, reforça essa semelhança: pseudocaryophyllus significa algo como “falso cravo”.

Ramo de cataia. Foto: Djeison Fernando de Souza

As cascas possuem os mesmos princípios ativos das folhas, e são utilizadas como remédio natural (a retirada exige experiência e cuidado e pode matar toda a planta). É rica em eugenol, um composto de teor antisséptico e anestésico. Possui propriedades antiespasmódica, tônica, antiescorbútica, expectorante, carminativa, estomática e sudorífica. Seus usos estão relacionados ao tratamento de ferimentos e de problemas estomacais, como azia, diarreia e dor de estômago. Há relatos sobre a utilização de cataia para tratar a impotência sexual, pois há quem diga que ela atue como afrodisíaco.

Indicado por Carolina Oda
Texto e pesquisa por Marcelo de Podestà
Revisão por Ligia Meneguello
Referencias bibliograficas:
Coletoras de cataia recebem apoio para produzir bebida sustentavelmente
Pimenta pseudocaryophyllus (Gomes) Landrum: aspectos botânicos, ecológicos, etnobotânicos e farmacológicos
Cataia curtida: o uísque caiçara.
Catenacci, F. S., 2010. Dinâmica de exploraçãoe apropriação de cataia – Pimenta pseudocayophyllus (Gomes) Ladrum (Myrtaceae) – na Barra do Ararapira (Ilha do Superagui, Guaraqueçaba, Paraná): uma perspectiva histórica.

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