Fortaleza da Mandioca Kiriri

Fortaleza // Nordeste

Fortaleza da Farinha e Derivados da Mandioca do povo Kiriri de Banzaê Historicamente, a cidade de Banzaê era um vilarejo do município de Ribeira do Pombal, representando 85% do território kiriri. Em 1990, o Governo Federal, através da Presidência da República, reconhece as terras do aldeamento Kiriri como de ocupação tradicional e permanente indígena, sendo a demarcação finalmente homologada através do Decreto nº 98828 de 15 de janeiro de 1990, resultado de muita luta dos povos indígenas que começou em 1979.

O município do estado da Bahia, localiza-se a uma distância de 296 km de Salvador e a 42 km do município de Ribeira do Pombal. Banzaê, palavra de origem indígena que quer dizer Terra de Valentes. Kiriri é um termo que significa povo “calado”, mas que também é nome de uma árvore forte e resistente chamada Kiri, presente na Caatinga. O povo kiriri é uma inspiração e exemplo de luta para muitos povos indígenas localizados na região Nordeste, pela sua estruturação política e pelas conquistas das terras no espaço de quinze anos.

Excluídos de suas terras pelos fazendeiros e posseiros, os kiriri encontraram grandes dificuldades para cultivar seus alimentos tradicionais, como a mandioca, um dos seus principais alimentos. Cansados da situação, o povo kiriri se reuniu no ano de 1972 para escolher um cacique, pois até então não se tinha e juntos lançaram o objetivo de desenvolver as roças comunitárias, dando
início aos trabalhos coletivos e ao nascimento das idéias e diálogos de luta pela sua terra. Em 1982, os kiriri iniciaram a reapropriação com a Fazenda Picos, período que gerou muitas mobilizações, organizações sociais e muitos conflitos em busca de seus direitos.

No ano de 1995 iniciamos as reivindicações na aldeia Mirandela conhecida como aldeia mãe por estar no centro do território kiriri; em 1996 conquistaram a Aldeia Mirandela e no mesmo ano tiveram a posse da aldeia Gado velhaco; em 1997 as famílias Kiriri retornaram para a aldeia Pau ferro. A aldeia Marcação foi conquistada pelos kiriri no dia 19 de março de 1998.

Finalmente no ano 1990 a Terra Indígena Kiriri teve a sua demarcação administrativa homologada através do Decreto nº 98.828, de 15 de janeiro, formando um octógono regular de 12.320 hectares, expandindo e formando novas aldeias no território.

A alimentação do povo indígena Kiriri é variada e tradicional, contendo vários tipos de frutas extrativistas e caças. Porém o feijão, milho e mandioca são à base do cultivo, esses são plantados em associação entre abril e maio, sendo a colheita realizada a partir de agosto. Já o feijão “verde” ou “de rama” – o “ligeirinho” – também consorciado com o milho, é plantado em fevereiro, sendo colhido normalmente de março até meados de julho. A mandioca é cultivada geralmente nos meses de outubro á dezembro e colhida a partir do mês de julho ou agosto, quando principiam as “farinhadas” (produção de farinha) As famílias indígenas Kiriri possuem tradição de cultivar a mandioca em seus quintais e roças por ser uma planta resistente ao período de seca e por ser um dos ingredientes principais na culinária. Os produtos derivados da mandioca produzidos pelas famílias indígenas são a farinha, o sussú, os biscoitos de goma, beijus e cuscuz da massa de mandioca com coco ralado. Para o preparo
desses produtos a mandioca é processada na casa de farinha (unidade de beneficiamento da mandioca) ou de modo artesanal em algumas aldeias que ainda usam casa de farinha manual.

No período da produção da farinha, as famílias costumam-se reunir para fazer o processo de raspagem da mandioca. Uma vez processada, uma parte da massa da mandioca é usada para a extração da tapioca (fécula da mandioca) para produção de biscoitos, beiju. Da massa da tapioca também se faz o sussu assado em gamela de barro, consumido pela família com carnes de caça (tatu, peba, peixe, camaleão, caititu, entre outros.)

Antigamente as famílias tinham uma produção limitada da farinha e se preocupavam com a perda da cultura do cultivo da mandioca, pois não existia uma casa de farinha próxima da localidade. Com a construção da unidade de beneficiamento e fábrica de biscoitos em 2010 na aldeia Marcação, a produção e cultivo se estruturaram, porém no mesmo período começou o período de seca que afetou a região,. Com as longas estiagens que afetavam o cultivo, as comunidades tiveram que comprar mandioca de outra região e algumas se beneficiaram da distribuição de maniva pelo poder público. Em 2018, foi um ano marcado pelas chuvas e boa produção de maniva no território indígena de Banzaê, com 60 toneladas de mandioca colhidas. Mesmo assim, ainda se faz necessário o fortalecimento desta atividade dentro da aldeia para que as famílias voltem a cultivar e ter a maniva de modo permanente, gerando renda de forma direta ou indireta.

A renda das famílias do povo Kiriri vem basicamente da agricultura de subsistência, o cultivo acontece durante o período do inverno e parte do produto é guardado e o excedente é vendido, para a aquisição de alguns produtos que não são cultivados na aldeia.

A Fortaleza
Slow Food, graças à colaboração com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola das Nações Unidas (FIDA), atua desde 2018 no município de Banzaê, Aldeia Marcação Kiriri, com jovens do povo Kiriri, organizados na “Associação Comunitária Indígena Kiriri Santo André de Marcação (ACIKSAM)”. O objetivo é promover ações de proteção e valorização das técnicas tradicionais de beneficiamento da mandioca, a produção farinha, goma e seus derivados (bolinhos, biscoitos, beiju, etc.) envolvendo os jovens no reconhecimento das técnicas de produção e beneficiamento, e no registro de preparos e receitas tradicionais, tais como o susú, alimento feito a base da mandioca e servido com peixe ou carne de porco salgada. O principal desafio que a Fortaleza precisa enfrentar é a volta ao cultivo da mandioca, após três anos de seca, o reconhecimento e valorização das técnicas tradicionais de beneficiamento, assim como o envolvimento dos jovens nas atividades organizacionais e produtivas em torno à fábrica e unidade de beneficiamento.

A Fortaleza promoverá a inserção econômica dos jovens Kiriri no sistema produtivo da mandiocultura, valorizando a sustentabilidade socioambiental e cultural e incentivando a participação e representatividade política dos jovens, melhorando as suas capacidades, enquanto estimula a segurança e soberania alimentar e fortalece a participação na Rede Terra Madre Indígena.

Área de produção/território

A Aldeia Marcação Kirirí, localizada no município de Banzaê, Bahia, é composta aproximadamente por 118 famílias, sendo a principal atividade econômica a mandiocultura. O plantio e as colheitas extrativistas são realizadas para a subsistência das famílias e o excedente é vendido por alguns nas feiras livres locais ou em Ribeira do Pombal, uma das principais sedes econômicas do território.

Agricultores e produtores

20 jovens do povo Kiriri, filhos das famílias pertencentes à Associação Comunitária Indígena Kiriri Santo André de Marcação (ACIKSAM). As famílias se organizam através da Associação Comunitária Indígena Kiriri Santo André de Marcação (ACIKSAM), fundada em 2009, que reúnem 80 cooperados, que tem como objetivo acompanhar e resolver todas as questões socioprodutivas e ambientais das famílias e incentivar o diálogo coletivo através de assembleias que acontecem mensalmente. A associação também apoia na organização, produção e comercialização da Unidade de Beneficiamento da Mandioca (UBM) e Fábrica de Biscoitos (FB), construídas entre os anos 2006 á 2013 no âmbito do projeto Gente de Valor apoiado pelo FIDA.

Referentes

Advaldo Jesus dos Santos Andrade (ubmkiririmarcacao@gmail.com)

Parceiro (ou parceiro técnico)

Associação Comunitária Indígena Kiriri Santo André de Marcação (ACIKSAM)

Apoiada por

FIDA - Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola

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