No último dia 15/10, no hospital da cidade de Parintins/AM, a Covid-19 infelizmente levou mais um gigante. O povo Sateré-Mawé perdeu mais um de seus sábios: Amado Menezes Filho, o Tuxaua Geral do Andirá.
Todas as pessoas ligadas ao Slow Food sempre foram muito bem recebidas por Amado quando tiveram a oportunidade de visitar a Terra Indígena Andirá-Marau. Quando podia, o Tuxaua Amado também participava das ações desenvolvidas pelo Slow Food, com um largo sorriso no rosto, muito carinho e simpatia. Sempre abraçou as iniciativas do movimento, enxergando nelas um meio de destacar os alimentos bons, limpos e justos do povo Sateré-Mawé, principalmente entre os mais jovens.
Tinha pleno entendimento de que os filhos do warana, como seu povo é conhecido, são parte essencial do movimento Slow Food, e em todas as reuniões, assembleias e oficinas, Amado realizava falas tocantes e sinceras quanto à necessidade de se reforçar e valorizar a cultura dos Sateré frente aos avanços dos produtos industrializados dos caraiuá (como eles identificam os não-indígenas). Jamais deixava de citar as articulações das Fortalezas do Warana e da Abelha Canudo Sateré-Mawé, inclusive cobrando energeticamente a ampliação das ações relacionadas a estes projetos.
Com a precoce partida do Tuxaua Amado aos 64 anos de vida, infelizmente a América Latina também perde mais uma das grandes lideranças de seus povos originários. Não podemos deixar de registrar aqui nossa indignação com a inoperância do governo brasileiro frente ao avanço da pandemia de Covid-19 nos territórios indígenas. Dentre diversas maneiras de se evitar essa catástrofe, as atuais lideranças de nosso governo nada fizeram para evitar, sob uma clara estratégia de prejudicar os verdadeiros donos dessa terra. Cada liderança perdida representa a perda de um conhecimento milenar que tanto tem para ensinar aos mais novos, sejam indígenas ou não-indígenas.
Com o mesmo respeito e reconhecimento que essa grande liderança sempre teve com a rede Slow Food, retribuímos aqui todo o carinho que Menezes nos presenteou. Externamos os nossos mais sinceros sentimentos à família do Tuxaua Amado e a toda a nação Sateré-Mawé.
Escrita por Carlos Demeterco – Associação Slow Food do Brasil