Roda de Conversa promove intercâmbio entre Fortalezas Slow Food da Bahia

Convite mostra participantes da roda de conversa no Terra Madre Brasil

Promover um intercâmbio de experiências, fortalecendo a rede de Fortalezas Slow Food da Bahia. Esse foi o objetivo da roda de conversa Compartilhamento de experiências das Fortalezas da Bahia a partir do trabalho coletivo e de base, organizada pela equipe do projeto Slow Food na Defesa da Sociobiodiversidade e Cultura Alimentar Baiana, no último 19 de novembro, como parte da programação do Terra Madre Brasil. 

A atividade contou com cinco representantes de Fortalezas Slow Food existentes, com a participação de Jussara Dantas, da Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc); Mara Oliveira, do Assentamento Dois Riachões; Davi das Mercês, da Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (Coopes); Advaldo Kiriri, da Associação Comunitária Kiriri de Santo André da Marcação (ACKISAM), e uma em fase de articulação, representada por Cosme de Souza, da Associação Brejos Dois Irmãos de Pilão Arcado (ABDIPA). Estiveram presentes ainda Hardi Vieira, Oficial de Programas do FIDA para o Brasil, e Carlos Henrique Ramos, do Projeto Pró-Semiárido (CAR/SDR Governo da Bahia e FIDA), além de Revecca Tapie e Pedro Xavier, ambos da Associação Slow Food Brasil.

Logo no início Revecca Tapie, explicou que  “Fortalezas Slow Food” é um programa, nascido 1999, com objetivo de conectar produtores e promover seus produtos. “O programa atua especialmente com famílias agricultoras, comunidades tradicionais e povos indígenas que vem lutando para conservar seus modos de produção e seus produtos em risco de desaparecimento. É também uma forma de valorizar a biodiversidade e a cultura alimentar local.”, ressalta.

Pedro Xavier, no papel de mediador, seguiu na condução do debate a partir de perguntas sobre a importância das organizações de base nos territórios, como tem sido a relação do Slow Food com esses coletivos e quais os principais resultados e expectativas com a articulação de projetos no território baiano. Com essas provocações a roda de conversa seguiu com uma diversidade de olhares, saberes e vivências.

Para Mara Oliveira, do Assentamento Dois Riachões, comunidade localizada no município de Ibirapitanga (BA), que além do cacau e derivados da Fortaleza do Cacau Cabruca do Sul da Bahia, produz outros alimentos agroecológicos, o apoio de organizações tem sido fundamental para se conseguir enfrentar o modelo do agronegócio. “Só conseguimos nos fortalecer se estivermos organizados. Hoje conseguimos apresentar nosso cacau para o mundo e organizar melhor nossas relações de comercialização. Além de vender o produto, vendemos a história da nossa comunidade, das nossas lutas e a interação com a rede Slow Food só veio nos fortalecer.”, conta. 

Jussara lembra que a Coopercuc nasce a partir de comunidades de base e que a  importância das organizações é contribuir para que as políticas públicas cheguem nas comunidades. “Nossa relação com Slow Food começou em 2004 e, desde então, fomos orientados a fazer uma melhor coleta do fruto porque o umbuzeiro é uma árvore ameaçada de extinção. Não vemos na caatinga árvores novas. As que têm são árvores com mais de 100 anos. Com um prêmio que recebemos conseguimos construir 10 unidades de beneficiamento, aprimoramos identidade dos produtos, participamos de intercâmbios com outras Fortalezas, tivemos formação para acesso em mercados, tudo com apoio do Slow Food. Foi o nosso elo com comércio justo internacional. E hoje além do umbu também agregamos a Fortaleza do Maracujá-da-Caatinga”, aponta.

Advaldo Kiriri destaca na parceria com o Slow Food o incentivo para a juventude. “Passamos a investigar nossa tradição, que não era tão conhecida entre os jovens da comunidade Kiriri. Com o projeto da Fortaleza da Farinha e Derivados de Mandioca Kiriri buscamos mais conhecimento sobre o que é nosso, a nossa fortaleza”.

Davi das Mercês, da Coopes (que foi chave na consolidação das Fortalezas do Licuri e do Mel de Abelha-Mandaçaia) também um representante da juventude, contou o quanto foi fundamental a participação da cooperativa em duas edições do Terra Madre, na Itália. “Foi quando levamos o licuri para o mundo. Slow Food ajudou nos rótulos, na publicação de receitas. Depois veio o mel da abelha-mandaçaia”, relata. 

Entre os convidados, Cosme representou uma Fortaleza ainda em articulação: a Fortaleza do Buriti, da comunidade dos brejos Dois Irmãos, município baiano de Pilão Arcado. Para ele, foi fundamental para a comunidade se organizar como associação. “As políticas públicas não chegam em comunidades distantes como a nossa. Com apoio do Pró-Semiárido, passamos a aparecer no mapa e estamos trabalhando para valorizar o buriti como identidade dos brejos e como nosso alimento”, diz. Cosme reforça ainda a importância do trabalho de assessoria técnica do Pró-Semiárido e da organização Sasop, que atua no território com foco na agroecologia. “Muito buriti foi destruído por causa da cana de açúcar, mas o acompanhamento técnico mudou nosso olhar e hoje nossa meta é a preservação do buriti.”, conclui.

As falas finais ficaram por conta do Carlos Henrique, representante da CAR, e de Hardi Vieira, do FIDA. Carlos Henrique resumiu a atividade com a frase “alimentar-se é um ato político. Nós optamos pelo (modelo) que resgata a sociobiodiversidade e ficamos entusiasmados em ver que não estamos sozinhos, que temos muitos parceiros”.

Já o Hardi, pontuou que esse momento dialogou com a própria metodologia de trabalho do FIDA e sintetizou os temas que foram fundamentais na roda de conversa. “Enriqueceu muito o que ouvi das Fortalezas diretamente de quem faz a Fortaleza. Foi colocada a importância do cooperativismo, do fortalecimento das organizações e das associações; como é importante fazer uma conjunção das culturas de modo que elas tenham uma coexistência, fundamental para resiliência dos agricultores familiares; e a questão da tecnologia, que ganha mais protagonismo com a pandemia”. O oficial do Fida no Brasil finalizou lembrando da importância do protocolo de produção. “O protocolo de produção é super importante e, por isso, o  Pró-Semiárido faz assistência técnica contínua em parceria com 10 organizações e é isso que faz com que as Fortalezas sejam um sucesso”.

Lançamentos

Durante a atividade, foram anunciados dois lançamentos. O primeiro do documentário Dois Riachões – Cacau e Liberdade, como parte da programação do Terra Madre Brasil, disponível no youtube . O outro, para 2021, é uma cartilha que reúne todos os produtos da Arca do Gosto na Bahia, como um dos resultados do projeto Slow Food na Defesa da Sociobiodiversidade e da Cultura Alimentar Baiana. Este é fruto de um convênio com o Pró-Semiárido, executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional ligada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (CAR/SDR), e conta com o apoio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). 

Se você perdeu essa roda de conversa, a transmissão está disponível aqui:

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