Jovens do povo Tremembé da Barra do Mundaú viajaram do litoral oeste do Ceará até a terra indígena do povo Tabajara do Sertão dos Inhamuns, próximo a divisa com o estado do Piauí, para vivenciar o compartilhamento de experiências culturais.
O segundo intercâmbio realizado em 2022, com foco na cultura alimentar, aconteceu dessa vez na Aldeia Fidélis, localizada no município de Quiterianópolis, e proporcionou momentos de convivência entre as juventudes indígenas Tremembé e Tabajara, através do contato com seus sabores e fazeres tradicionais. As atividades previstas na programação, construída de forma participativa com as lideranças Eleniza Tabajara e Mateus Tremembé, foram organizadas visando promover a autonomia de jovens e mulheres com olhar para a transmissão e manutenção dos saberes e práticas que fortalecem a identidade cultural e territorial.
Desde a abertura do evento, rezando, cantando e dançando, os presentes evocaram a força de suas ancestralidades nos rituais Torém e Toré, expressões culturais relacionadas à espiritualidade do povo Tremembé e Tabajara, respectivamente. E, ao longo dos dias, outras manifestações como a dança do biri, o piseiro e o reisado promoveram ainda mais integração entre os dois povos indígenas.
Oportunidades como a vivência da pesca artesanal com tarrafa, que propiciou saborear os pescados ainda fresquinhos assados na brasa na beira do açude, a colheita de milho, da fava e do sorgo, além da visita aos aviários, concederam às juventudes a possibilidade de expandir a compreensão sobre a agricultura familiar praticada na região do Sertão dos Inhamuns e elucidaram a importância da valorização da sociobiodiversidade local como garantia de regeneração da qualidade de vida e acesso a uma alimentação boa, limpa e justa.
Outro momento de grande aprendizado foi a caça noturna com cachorros, uma tradição remanescente do povo Tabajara que vem sendo perdida com o passar dos anos, e que revelou o desafio de estar numa terra ainda não demarcada pelo governo federal, onde a comunidade vive com a presença de posseiros que provocam ameaças constantes, inclusive com a acentuada devastação da natureza.
Para estimular a mobilização comunitária e ampliar a voz e o alcance das pautas relevantes e urgentes dos territórios, a comunicadora e ativista alimentar Nane Sampaio, integrante do movimento Slow Food, disponibilizou conteúdos para uma oficina de comunicação popular, que agregou ao repertório dos jovens uma variedade de técnicas comunicativas para atuação em rede e ferramentas disponíveis em aparelhos smartphones e aplicativos de mídias sociais.
A surpresa ficou por conta da oficina de preparos da cultura alimentar, promovida por Telma Carvalho, da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, que possibilitou o aprendizado de receitas de bolos e cocadas feitas de macaxeira, abastecendo com novos conhecimentos, aromas, cores, texturas e gostos o potencial de desenvolvimento de atividades econômicas das comunidades.
A ação foi viabilizada pela parceria entre o Projeto São José – SDA-CE e IICA – e a ASFB – Associação Slow Food do Brasil, como desdobramento do projeto Território e Cultura Alimentar no Ceará.